O italiano Ângelo Bevilaqua, natural de Trieste, chegou ao Ceará no começo do século XVII. Vítima de um naufrágio, aportou nas praias de Cauipe, município de Caucaia. Nesse desastre foi socorrido por populares e conduzido para Fortaleza.
Refeito dos incômodos da viagem principalmente do naufrágio, Bevilaqua passou a integrar-se ao convívio da nova terra, chegando a exercer várias atividades, como se realmente fora um nosso patrício.
Passado algum tempo, ligou-se em matrimônio a uma jovem pertencente às principais famílias da terra: Luísa Gaspar Oliveira. Em 1818, nasceu o primeiro filho do casal: José Bevilaqua, que mais tarde foi ordenado sacerdote e em seguida nomeado vigário colado da freguesia de Viçosa. Desse ponto começou realmente a família Bevilaqua.
Bevilaqua assumiu o vicariato da paróquia em 1844, onde permaneceu até 1905, quando se deu o seu falecimento. Seu enterro foi realizado no corpo da matriz de N. S. da Assunção, naquela cidade serrana.
Depois de instalado em Viçosa, Bevilaqua deu na cabeça a ideia de abandonar o celibato e unir-se à Bíblia “Costela de Adão”. Como fazê-lo seria o ponto crucial de suas preocupações. Como porém, não existe no mundo problema sem solução, logo o velho pároco enxergou o caminho por onde deveria trilhar.
Segundo a tradição popular, Bevilaqua, a partir de algum tempo, vivia de amores secretos com uma jovem piauiense. Chamava-se ela Martiniana de Jesus Aires, pertencente à importante família natural da vizinha Província e que, por ocasião dos atropelos causados pelos Balaios, homiziara-se em Viçosa. Certamente ficara sob a proteção do padre Bevilaqua.
Com o correr dos tempos – dizem – Bevilaqua achou por bem levar mais adiante o seu projeto. Havia na cidade um jovem de baixos recursos, porém de boa família e portanto capaz de misturar-se com os emigrantes piauienses. Bevilaqua, então, perguntou-lhe se em suas ambições ele não imaginava ser possuidor de uma casa de negócio, uma casa assim e assado … e que lhe proporcionasse a independência, chegando mesmo a estabelecer comparação, servindo-se de exemplo uma casa de negócio existente em determinado local da cidade. O jovem teria respondido que isso seria impossível, mas Bevilaqua não o desanimou. Disse-lhe, então, que ele se ele contraísse matrimônio com a jovem Martiniana, poderia muito ser proprietário do negócio exemplificado. O jovem não quis crer no que seus ouvidos escutaram e pediu mais explicações, acrescentando que uma “casa daquelas” custaria importância equivalente a trinta contos de réis. Quando o jovem silenciou, o padre estava com a resposta na ponta de língua: “Pois a casa é sua”.
O jovem quis mais explicações e o padre concluiu: “basta você casar-se com a moça, receber os trinta contos e sair pelos fundos da igreja. Em qualquer lugar onde você esbarrar, poderá estabelecer-se com o que é seu”. Os trinta contos se foram no bolso do jovem interesseiro e o artificioso padre ficou com a mulher. Desse protecionismo nasceram os seguintes filhos:
I. Angelino Bevilaqua – engenheiro agrônomo com atividades no Amazonas.
II. Euclides Bevilaqua – formado em Direito, tendo atingido o posto de desembargador no Tribunal de Justiça do Paraná.
III. Clóvis Bevilaqua – jurista, nascido em 1859 e falecido em 1944, no Rio. Foi o pai do Código Civil Brasileiro.
IV. Edeltrudes Bevilaqua – casou-se com o primo João Benício Bevilaqua, comerciante em Granja e posteriormente em Viçosa. Filhos do casal:
1. Achilles Bevilaqua, advogado de renome;
2. Desembargador Isaías Bevilaqua, do Tribunal de Apelação do Paraná;
3. Humberto Bevilaqua, funcionário público.
Era pessoa de excelsas qualidades morais, estimadíssima no meio em que viveu e de numerosos parentes. Edeltrudes Bevilaqua faleceu no dia 02 de outubro de 1941 em Viçosa do Ceará.
V. Clotildes Bevilaqua – casada com Francisco Araújo, residente no Amazonas.
Alguns dos irmãos do padre José Bevilaqua procuraram viver à sombra do importante irmão. Antônio Bevilaqua estabeleceu-se na vila de Granja. Casou-se com Urçulina Queiroz, filha do padre Felipe Benício Mariz, vigário que também foi pároco em Viçosa durante vários anos e onde viveu maritalmente com Silvéria Joaquim de Queiroz. Após a morte do padre Mariz, Antônio Bevilaqua fixou residência em Granja, onde faleceu (01.10.1854).
De Antônio Bevilaqua, constam os seguintes filhos:
2.1. Ângelo Bevilaqua.
2.2 Rachel Bevilaqua.
2.3. João Benício Bevilaqua.
Antônio Bevilaqua tendo ficado viúvo, partiu para uma aventura em termos mais avantajados. Por morte, deixara o Cel. José Romão da Mota uma viúva detentora de grande patrimônio. Era D. Ana Alves, mulher já de idade fora das regras normais de casamento. Bevilaqua consagrou-se do ouro e o casamento veio como primeira conquista. Casou-se e em seguida veio a separação.
Bevilaqua ainda com esta não desistiu das viúvas. Partiu para o terceiro casamento, unindo-se a viúva de Eliseu Belfort Teixeira (mãe do Dr. Raimundo Belfort Teixeira formado pela Faculdade de Direito do Pará). Deste matrimônio, com a viúva Joana Belfort, nasceram os seguintes filhos:
3.1. Antônio Bevilaqua Filho – Homem de “7 instrumentos” pois, das diversas profissões que exerceu foi até técnico em odontologia. Faleceu em 1931. Era irmão do renomado pintor José Artur Bevilaqua, genro do Cel. Inácio Fortuna, falecido em 20 de agosto de 1915. D. Julieta, esposa de Arthur Bevilaqua, faleceu em 1974, contando mais de 70 anos de idade.
Outro irmão do padre Beviláqua, que também se sobressaiu à sombra do velho pároco, foi Manoel Bevilaqua. Residiu em Viçosa e era casado com Rosa Lopes Freire, neta do Sargento-mor Felipe Benicio Fontenele. Os filhos deste casal, em número de cinco, são:
Nesse ramo não é conservado o sobrenome da mãe.
Fonte: A. Batista Fontenele – A Marcha do Tempo – Os Fontenele – Foortaleza – Senai/CE – 2001. 5.10. OS BEVILAQUA – pág. 229 a 231.